inspiração 1 . palavras


"Me encanta estar vivo, trabalhando e criando ...

só desenhei o que o coração pediu..."

(elifas andreato)

sexta-feira, 28 de março de 2008

Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças


O cartaz que venceu na última votação foi Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças e dedico esta análise, se me permitem meus leitores, a meu amigo Fabio Machado que diz que esse filme é tudo para ele, é ele ou quase ele, e sempre quis que eu analisasse este cartaz. Há algum tempo, fazendo uma pesquisa de repertório musical para cantar em uma apresentação pela internet, me deparei com um texto de um site que criticava este filme e falava de uma música nacional, belíssima por sinal, que teria tudo a ver com a proposta do filme. Eu já amava essa tal música. Depois, lendo a letra e pensando nesse filme, percebi que realmente tem tudo a ver. A música é Todo Sentimento do maravilhoso Chico Buarque — que amo de paixão pena que ele não saiba disso e nem me conheça — e que vou colocar estrofes dela a cada trecho da análise. Para quem viu o filme, percebam como essa letra é perfeita para a história. E quem quiser ouvi-la na voz de Miucha clique aqui (no final tem a letra completa e o link para ela na voz de Chico). Mas vamos ao cartaz:


Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças


Azul e Laranja. Cores opostas que se complementam. As duas diagonais deste cartaz também se opõem, em posição e em conteúdo de informação. A 1ª diagonal, a principal da primeira linha de leitura, (canto superior esquerdo para canto inferior direito) é vazia, limpa. A única informação visual que possui é uma suave rachadura no chão de gelo. É uma diagonal limpa, vazia e melancólica: Azul.

A outra diagonal, do lado oposto, (canto inferior esquerdo para canto superior direito — o peso da imagem do rosto dele força a nossa leitura de baixo para cima) é repleta de conteúdo e todos necessários à boa compreensão do cartaz e do filme. Começando no canto inferior esquerdo temos: Jim Carrey, seu olhar que leva para seu pensamento sendo bloqueado, ou pelo menos sofrendo uma interferência da rachadura, o nome do filme e os seus desejos, lembranças de momentos de união e dias felizes de um possível amor: Laranja


Preciso não dormir / Até se consumar / O tempo da gente / Preciso conduzir / Um tempo de te amar / Te amando devagar e urgentemente

A ligação do azul e do laranja está refletida em todo o cartaz e no filme.Essa inconstância de emoções, sensações, lembranças, desejos etc que existem no filme estão simbolizadas na alternância da composição do cartaz. Na cabeça do cartaz os nomes também se alternam entre azul e laranja, começa com Jim Carrey em azul, depois Kate Winslet em laranja.

Jim Carrey: azul: o que busca, o que deseja, quer paz, encontrar seu equilíbrio na mulher amada

Kate Winslet: laranja: o desejo, o riso, a felicidade perdida e encontrada



Pretendo descobrir / No último momento / Um tempo que refaz o que desfez / Que recolhe todo sentimento / E bota no corpo uma outra vez


O nome do filme reforça esta relação:

Brilho Eterno em laranja: luz, desejo, felicidade
De uma Mente Sem Lembranças em azul bem escuro quase um preto: vazio, busca, paz, solidão.
Vejo nesta linguagem de alternância, de oposição existente em tudo neste cartaz, como a linguagem construtiva principal. Mas podemos perceber outros detalhes de composição.



Prometo te querer / Até o amor cair / Doente, doente

O Gelo Rachado: simboliza o que está claro aos nossos olhos como a quebra de continuidade, bloqueio de caminho e também o simbolismo de fragilidade da fina camada de gelo que pode ser quebrada com um simples toque e assim trazer a morte, a dor cortante do frio extremo, a solidão de um corpo se afundando dentro d´água (no filme temos uma cena do rosto dela afundando na água). E a imagem que temos sobre a rachadura é um sonho, um desejo que pode ser facilmente despedaçado, como quando jogamos um balde de água fria em nossos anseios.

O Rosto pela metade: reforça a idéia dos olhos, do pensamento e, logicamente, a proposta da mente sem lembranças. Uma mente sem voz, já que não temos a boca, impedida de se expresar, pedir, gritar por ajuda ou por amor. Um homem pela metade.



Prefiro então partir / A tempo de poder / A gente se desvencilhar da gente

A imagem do casal: não representa um casal feliz, unido, como se tivesse uma vida inteira pela frente, juntos. Eles estão lado a lado sim, mas não se tocam, não partilham de cumplicidade. Não se olham. As mãos estão ou escondidas (dele) ou segurando uma a outra (dela). Apesar do frio e de serem um casal, não tentam se esquentar, nem com o corpo, nem com a alma. Estão distantes andam por caminhos distintos — pernas abertas para direções diferentes — paralelos, talvez nunca se encontrem. Seu cabelo azul reforça a relação de distância de ausência de uma mente sem lembranças também.



Depois de te perder / Te encontro com certeza / Talvez num tempo da delicadeza

Seus corpos de tocam em apenas um ponto, dos ombros ao cotovelo entre a região do peito, do coração. Se traçarmos uma linha que se inicie nesse ponto de encontro e passe pelas mãos azuis dela — detalhe que força a visão dessa imagem — chegamos ao centro da rachadura que se espalha por vários caminhos. Está clara esta relação com tudo que já foi falado neste cartaz. Essa rachadura divide claramente o cartaz em duas imagens: ele sozinho e ele com ela. Para quem já viu o filme percebe que a essência da história esta presente neste cartaz. Como no final da música:





Onde não diremos nada / Nada aconteceu / Apenas seguirei / Como encantado ao lado teu.


Para terminar gosto de falar de tipologia, ou seja das fontes de letras usadas. Bem escolhida a fonte usada no nome do cartaz mostra um equilíbrio entre traços masculinos — formas retas e cheias — e formas femininas — letras arredondadas. É fácil de ler e chama a atenção para o texto, não prejudica nem leitura nem entendimento.

Então fico por aqui. Espero que tenha gostado e espero seus palpites para o próximo cartaz, ok!



Para vocês a letra completa da maravilhosa... TODO SENTIMENTO e se quiserem ouvur na voz de Chico, cliquem aqui

Preciso não dormir
Até se consumar
O tempo da gente
Preciso conduzir
Um tempo de te amar
Te amando devagar e urgentemente
Pretendo descobrir
No último momento
Um tempo que refaz o que desfez
Que recolhe todo sentimento
E bota no corpo uma outra vez
Prometo te querer
Até o amor cair
Doente, doente
Prefiro então partir
A tempo de poder
A gente se desvencilhar da gente
Depois de te perder
Te encontro com certeza
Talvez num tempo da delicadeza
Onde não diremos nada
Nada aconteceu
Apenas seguirei
Como encantado ao lado teu.



Cartazes que estão em votação para a próxima análise e lembre-se aceito sugestão, palpites etc. A enquete fica lá em cima na coluna da direita:


12 comentários:

Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Anônimo disse...

Bem legal a análise, como sempre. Li e não comentei anteriormente. Agora voltei para votar Hehehehe....
Não sei se vou chover no molhado, mas o branco acima da cabeça parece mesmo uma nuvem (ou balão) de pensamento ao estilo HQ.

Quanto ao próximo cartaz...
Edward!!, tã nã nã...
Edward!!, tã nã nã...
Edward!!, tã nã nã...

:)
Beijos Márcia!!

Divino Leitão disse...

Como sempre, uma análise precisa, apaixonante de um cartaz que ao mesmo tempo que esclarece que eles não são feitos ao acaso acaba sendo uma aula completa.

Faz ter vontade ver o filme, faz ter vontade de ouvir a música.

É sempre um prazer e um privilégio poder ver estas análises.

Parabéns Marcina e dizer isso não é "chover no molhado" é apenas o mínimo que podemos fazer em agradecimento a seu trabalho, perfeito.

Anônimo disse...

Márcia, navegando pelo designgrafico.art.br me deparei com o link à sua análise. Simplesmente me encantei. Seu blog já está nos meus favoritos e, sempre que der, passarei aqui para ler, comentar, e votar no próximo cartaz.
Ainda tenho só 17 anos e pretendo me formar em design gráfico, portanto, acredito que aqui exista muitas informações que serão úteis,em algum momento de minha carreira.
Parabéns pelo seu trabalho.
Te desejo sucesso!
Abraços.

Camila Caporar disse...

quantos detalhes passam despercebios pela gente né... amei a analise
voto para a próxima o cartaz de volver, adoro esse filme

Fabio Machado disse...

Bom...só pra variar, comentários atrasados =P

Antes de mais nada agradeço pela dedicatória...hoje em dia, não creio que o Brilho Eterno seja "tudo pra mim" do mesmo jeito que era há alguns anos, mas certamente ainda é um dos meus favoritos. Consegue tratar de temas "universais" (relacionamentos, sentimentos que se transformam, memórias) sem soar piegas, envolto numa atmosfera de sonhos mas sem tirar os pés do chão - cortesia do mestre Michel Gondry.

Quanto à análise, perfeita como sempre (só poderia ser mais extensa, né? =P), pessoalmente nunca tinha reparado em alguns detalhes que você apontou no cartaz. Boa idéia ter tudo isso conectado com a Todo Sentimento, espero que quem goste do filme possa ouvir e se encantar também com a música.

Fico no aguardo da próxima análise (e nessa eu não votar no filme que mais gosto, só pra ser do contra)...bjos!

Anônimo disse...

Oi Marcia!
É a primeira vez que entro em seu blog e logo de cara adorei!
Na verdade, adorei essa análise!!!
Nossa, e pensar que nunca parei, nem se quer um segundo, para olhar com mais atenção os cartazes dos filmes!
Parabéns!
Bjos
=)

André Leite disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
André Leite disse...

Tudo bem Márcia?
Adorei a análise, mas concordo com os posts acima, poderia ser mais longa! rsrs...
O que eu preciso fazer para ganhar uma dedicatória também? hehehe...
Compartilho tudo o que o Fábio disse, e digo que este filme "ainda" é tudo para mim, realmente ele consegue tocar sentimentos e feridas de modo peculiar, sem ser piegas.
Eu tenho outro cartaz deste filme, gostaria de enviar a você e quem sabe, ver ele analisado sobre outro prisma.
Quanto ao próximo... há como trapacear para ser Vertigo? Putz, clássico, votarei todos os dias nele!
Bjs!

Anônimo disse...

Muito bom este blog Márcia. parabéns!
Já vi todos estes filmes,Gostei muito,revejo-os de novo.
Gostaria de ver tantos outros,mas são tantos outros bons, que não teria espaço nesta caixa de textinho.

Aficionado, por filmes, fora do circuito.
Abraços!

Gil Menin disse...

Sensacional análise.
Acho que surpreenderia até mesmo o autor do cartaz, eheheh.
Abraço

Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.