inspiração 1 . palavras


"Me encanta estar vivo, trabalhando e criando ...

só desenhei o que o coração pediu..."

(elifas andreato)

sábado, 3 de maio de 2008

1000 Tsurus


Sou sansei, na verdade sou uma grande mistura: Espanha, Portugal, Suécia, Alemanha e Japão. Destes países todos, o que está mais próximo no meu sangue, na minha descendência é o Japão. Meu avô, Yuchi, veio de Hiroshima. Isso eu já sabia, mas descobri, há pouco tempo, que ele e sua família chegaram aqui no dia 25 de abril de 1912 — meus bisavôs, Senjiro e Taki, meus 4 tios-avôs e meu avô o mais novo dos 5 irmãos com 3 anos — vieram no navio Kanagawa Maru (foto acima desta viagem em 1912). Do Porto de Santos foram para a fazenda Guatapará em Ribeirão Preto, mas como no Japão estavam acostumados com a vida da pesca vieram para Santos e se instalaram na Ponta da Praia.

Muito tempo depois, conheceu minha avó Odete, brasileira, casou-se em meio aos preconceitos. Deste casamento nasceram meu pai, (Wilson), minha tia (Elizabeth) e meu Tio (Nelson). Meu pai conheceu minha mãe, também brasileira, e casaram-se também em meio a preconceitos. Foi assim com meu Tio e seria com minha Tia se não tivesse falecido cedo e solteira. Descobri também que o nome pelo qual todos me chamam, assim como chamavam meu pai, tia e chamam meu tio, primos e muitos de nossa família, Okida, foi grafado errado quando meus bisavós chegaram aqui. Na verdade descobri ser Márcia Okita e não Okida. (na foto acima de 1967 eu logo que nasci e meu avô Yuchi Okida, o melhor Okita)

E aos 40 anos descobri uma nova identidade.


Tudo bem uma troca de T por D não modifica a minha vida nem me torna outra pessoa. Mas neste centenário, eu, que já queria buscar mais sobre meu passado oriental, achei: meus bisavôs, sua chegada aqui e meu nome de verdade.

Mas porque falar de tudo isso? Bem estive neste dia 1º de maio no Undo kai aqui em Santos, comemoração do dia do trabalho característica do Japão, que acontece por aqui há uns 50 anos. Fui em busca de tradição, principalmente em ano de centenário e conversei com um amigo, também de descendência japonesa, quando saía de lá sobre como estamos perdendo cada vez mais as tradições, a história.

Tenho muito em mim do sangue, perfil oriental. Meu lado silencioso, detalhista, espiritual e meu trabalho. Meu estilo de design é inspirado em grandes designers gráficos japoneses como Ikko Tanaka, falecido em 2002 — que considero o melhor cartazista que já existiu — e Shigeo Fukuda da nova geração mas que possui o mesmo estilo do design japonês de Ikko Tanaka. Simples, simbólicos, fortes e perfeitos. (abaixo cartazes Ikko Tanaka - esquerda - e Shigeo Fukuda - direita)


Sempre que posso busco essa história, essa tradição. Se tivesse filhos ou sobrinhos gostaria que eles conhecessem tudo que o Japão, sua arte, sua história tem para trocar com a gente. Não que eu seja presa as tradições mas, acredito que o conhecimento e a troca são fundamentais para um bom repertório de vida e, no meu caso, de criação visual, de arte. Tenho aqui na minha frente, em minha estante, um livro que cuido com muito cuidado. Maravilhas do Conto Japonês era de minha tia, Elizabeth, culpa do tal navio em 1912. Com traduções extremamente fiéis de contos tradicionais japoneses. Já me serviram de inspiração para aulas sobre simbologia, cores e criatividade.

Pena que poucos ainda se preocupam em conhecer suas origens e transmiti-las aos seus filhos. Não falo de prática, mas de troca de conhecimento e valorização das tradições artísticas, culturais extremamente ricas de um país como o Japão. Isso vale para nós brasileiros também lembrarmos da cultura, do folclore maravilhoso que existe em nosso país e que por vezes trocamos por tradições e costumes americanos.

Bem eu de minha parte tento resgatar sempre a nossa cultura brasileira, nosso folclore, sempre que posso, mas também faço o mesmo com as tradições japonesas.

Quem me conhece sabe que faz tempo que tenho uma vontade, um sonho: enviar para o Memorial da Paz de Hiroshima, mas precisamente para o Monumento as Crianças mortas, feito em homenagem a garotinha Sadao Sassaki, um conjunto de 1000 tsurus daqui do Brasil. Ainda em 2006 falei com algumas pessoas que gostaria de mandar durante o ano das comemorações do centenário, ou seja, este ano.

Fica aqui meu convite: quer participar desta corrente de paz, amor, fé etc e que também é uma maneira de cada um de nós homenagear os 100 anos da imigração?

Faça um Tsuru, de qualquer tamanho, cor, mas em cada dobra coloque um pensamento pela paz. Escreva seu nome em uma das asas e na outra uma palavra de amor, paz... Mande para mim com seu nome e contato. Para saber como fazer o seu(s) Tsuru(s) chegar em minhas mãos e juntar com muitos que já tenho, me escreva um e-mail, ou se já me conhece, me entregue.
Para você se inspirar: antes da garotinha Sadao Sassaki, de 12 anos, morrer de leucemia por consequencia da bomba, ela com a fé de que seus desejos poderiam se realizar se dobrasse 1000 tsurus, disse ao dobrar um deles: "Eu escreverei paz em suas asas e você voará o mundo inteiro." Nós pés da estátua em sua homenagem (foto acima) existe a seguinte inscrição: “Este é o nosso grito. É a nossa oração. Paz no mundo.”


Faça o seu e vamos mandar um pouquinho da nossa fé, amor e paz para um lugar que ainda precisa de muita energia positiva.