inspiração 1 . palavras


"Me encanta estar vivo, trabalhando e criando ...

só desenhei o que o coração pediu..."

(elifas andreato)

terça-feira, 22 de julho de 2008

Edward Mãos de Tesoura


Oi gente depois de muito tempo estou aqui com a nova análise de cartaz. Peço desculpas pois o trabalho me afastou um pouco mas estou de volta com o mais votado e mais 5 para a nova votação. São eles: Volver, Peixe Grande, Deus e o Diabo na Terra do Sol, Gilda e Fim dos Tempos. Escolhi estes pelo seguinte: Volver, Deus e O Diabo foram os dois mais votados no geral até agora. Gilda o mais votados entre os cartazes antigos. Fim dos Tempos um cartaz de filme atual (gosto do cartaz mas o filme é péssimo se quisererem ler um artigo sobre este filme cliquem aqui) e Peixe Grande porque sempre vou colocar um cartaz novo. Além disso recebo sugestões é so me enviarem se cliquerem me mande um mail clicando aqui. Peixe Grande vou sugestão de algumas pessoas. A imagem destes cartazes para que possa ver e escolher esta no final deste post.

Edward Mãos de Tesoura foi o cartaz escolhido na última votação. Ganhou disparado com 44% dos votos contra 22% de Volver, 13% de Vertigo, 14% Deus e o Diabo na Terra do Sol e 4% Bye, Bye Brasil. Para que o cartaz seja melhor compreendido é necessário traçar um breve perfil do personagem Edward e sua história. Vale a pena também abordar um pouco a direção de arte do filme.

Edward — Johnny Depp — é uma espécie de robô que vinha sendo construído aos poucos pelo seu “pai”, um inventor dono de uma fábrica de biscoitos — Vincent Price. Mas, ele morre antes de terminar sua criação, deixando Edward sem as mãos. No lugar delas existem tesouras colocadas de modo provisório. A mansão onde ele mora é escura, fria, com cenário em tons de preto e cinzas. Mas Edward, que possui aparência fria, monocromática e de feições sérias, é singelo, sensível e carinhoso. O mundo fora de sua mansão é extremamente colorido, com pessoas sempre sorridentes e ativas porém insensíveis, preconceituosas e superficiais, com suas vidas andando sempre do mesmo modo equilibrado e monótono. Edward é encontrado nesta mansão e levado ao mundo real por um vendedora da Avon — Dianne Wiest — a única que se importa realmente com ele e tenta fazer com que leve uma vida normal. Edward desequilibra esta cidade, tira as pessoas da monotonia e se apaixona pela filha da vendedora da Avon — Winona Ryder. E assim se resenrola a história. Leveza, simplicidade, dor, amor... tudo isso que temos no filme, temos no cartaz.
É um cartaz leve, clean. Poucas cores, poucas imagens. Leitura fácil e objetiva com apenas 2 tipologias, bem parecidas, com uma forma que faz uma perfeita associação com o tema: tesouras, corte, navalha e ao mesmo tempo delicadeza. Repare no traço, desenho, forma das letras.
Também é um cartaz de contrastes de cores, formas e sentimentos. O cartaz mostra a relação entre os opostos. Assim como no filme.
Equiíbrio e relação entre opostos. Essa é a linguagem principal deste cartaz.

É um cartaz bastante simétrico em sua composição. Algumas pessoas podem achar que não por ter na sua esquerda muita imagem e na direita muito branco. Mas é isso que o torna simétrico. Os pesos, tanto da imagem como do branco, são iguais se dividirmos na vertical ou na horizontal. A quantidade de informações que temos na área superior é igual a que temos na inferior. Portanto temos simetria, equilibrio, que está relacionado a monotonia e estagnação. Mas é um equilíbrio falso, causado e simbolizado pela borboleta e seu posicionamento: nos dedos, tesouras, de Edward.


A borboleta esta na ponta de uma das tesouras. Temos a sensação de que o equilíbrio dela sobre a lâmina pode ser quebrado facilmente. Ela está na ponta e em amarelo, e é justamente a cor amarela de suas asas, que dá esta sensação de um possível desequilíbrio onde a qualquer momento pode fazer com que ela voe e saia de sua linha de visão.

O amarelo neste cartaz tem vários significados. Representa a luz — descoberta de um mundo novo e emoções novas — o nervosismo e inquietude que tomam conta de sua vida e o materialismo das pessoas, busca por dinheiro e riqueza. Para Edward a borboleta é essa luz, essa vida nova, mas que traz neste seu brilho que tanto admira — reparem em seu olhar fixo em suas asas — um poder que pode cegar, fazendo com que sua ingenuidade não deixe com que perceba todos os problemas em sua volta. Edward se fascina pelas cores novas — amarelo — deste mundo fora de sua mansão sempre preta, branca e cinza e, com isso, não percebe a verdadeira personalidade das pessoas que fazem parte desta sociedade.
As únicas cores além dos cinzas e preto estão na borboleta e em seu rosto. É como se a borboleta refletisse em sua face as cores de uma nova vida e possibilidades. Na imagem ao lado simplesmente copiei e colei a borboleta sobre o seu rosto, reparem como as duas imagens se casam bem, seria essa a sensação de Edward ao olhar a borboleta:

• as asas da borboleta rajadas de preto são como os cortes em seu rosto
• a fragilidade da borboleta é a mesma de seu coração e de sua vida
a borboleta também representa o modo como ele nasceu, se transformou aos poucos em “homem” como uma lagarta em seu casulo.

A liberdade que ele busca, representada pelas asas, pode ser destruída facilmente apenas pelos movimentos de seus dedos. Edward se deixa apaixonar pela borboleta mas sabe que pode machucá-la facilmente. Essa ligação entre Edward e a borboleta é a mesma da relação de amor que ele tem por Kim — Winona Ryder.

Mesmo este cartaz tendo equilíbrio na divisão dos espaços, ele possui assimetria e por isso incomoda. Temos a sensação de que seus dedos vão se movimentar a qualquer momento e essa borboleta vai voar e ele, se ferir, aumentando suas marcas no rosto. Isso acontece pelas diagonais formadas pelas lâminas das tesouras tornando a composição, subliminarmente, assimétrica. Se o posicionamento de seus dedos fosse outro talvez essa sensação não fosse tão forte. Reparem nas linhas geométricas que existem formadas pelos seus dedos. Os eixos de cada mão estão posiconados de um modo que a sensação de abrir e fechar das tesouras, para cima e para baixo, é mais fácil de ser percebida. Sentiríamos diferente se eles estivessem mais alinhados ou equlibrados entre si.
Ainda podemos ver mais sobre essa linguagem dos opostos, que se chama Patafísica.


O cartaz dividido em duas partes esquerda e direita, divide tudo, respectivamente:

Feio e o belo • grosso e delicado • força e fragilidade • imortalidade e mortalidade • estagnação e mudança • morte e vida • ódio e amor • a sociedade e Edward • Edward e a sociedade • fantasia e realidade.
Embora esta divisão seja visualmente clara, ela é sublinarmente distorcida, mutável e infinitamente baseada nos ciclos que nunca terminam, se encontram e se alteram de acordo com o olhar do espectador: Edward, a esquerda pode representar o ódio, o feio, o grosso, a fantasia mas ao mesmo tempo pode ser o oposto de tudo isso.

O que é a fantasia o que é real? O que é feio ou bonito?
Depende do olhar, do seu olhar, do olhar de Edward neste cartaz que é o foco visual principal desta composição.

Para terminar indico este filme para quem ainda não viu. É um ótimo filme, fábula, de Tim Burton em seu primeiro encontro com Johnny Depp. Para quem é da área do design então, é obrigatório: direção de arte impecável.

E vote no seu cartaz preferido para a próxima análise, abaixo uma miniatura de cada um, e na coluna ao lado bem no início esta a enquete... participe. Sugestão? me mande um mail.