inspiração 1 . palavras


"Me encanta estar vivo, trabalhando e criando ...

só desenhei o que o coração pediu..."

(elifas andreato)

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

casa nova

Oi gente finalmente estou de casa/site/blog novo caso apareçam por aqui acessem então o novo Noite Estrelada arte e design. Espero que gostem! E nos vemos por lá.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Estou de Mudança...

...mudança de blog, de domínio, de cara nova... um novo blog chegando e um site a caminho (já era hora alguns devem pensar.

O novo blog será inaugurado com uma análise de cartazes nova: Deus e o Diabo na Terra do Sol, que amoo de paixão, um grande cartaz de um grande designer: Rogério Duarte, responsável pelos cartazes dos filmes de Glauber Rocha.

E além disso o blog terá algumas novidades.

Prometo em breve dar notícias e se alguém passar por aqui e quiser mandar seu nome e e-mail para fazer parte de meu mailing de divulgação assim que colocar no ar, é so me escrever: okida@uol.com.br

Se quiser acompanhe as atividades do projeto CINESURPRESA lendo o nosso blog e quem sabe apareça em um dos nossos encontros.

beijos e até breve

terça-feira, 22 de julho de 2008

Edward Mãos de Tesoura


Oi gente depois de muito tempo estou aqui com a nova análise de cartaz. Peço desculpas pois o trabalho me afastou um pouco mas estou de volta com o mais votado e mais 5 para a nova votação. São eles: Volver, Peixe Grande, Deus e o Diabo na Terra do Sol, Gilda e Fim dos Tempos. Escolhi estes pelo seguinte: Volver, Deus e O Diabo foram os dois mais votados no geral até agora. Gilda o mais votados entre os cartazes antigos. Fim dos Tempos um cartaz de filme atual (gosto do cartaz mas o filme é péssimo se quisererem ler um artigo sobre este filme cliquem aqui) e Peixe Grande porque sempre vou colocar um cartaz novo. Além disso recebo sugestões é so me enviarem se cliquerem me mande um mail clicando aqui. Peixe Grande vou sugestão de algumas pessoas. A imagem destes cartazes para que possa ver e escolher esta no final deste post.

Edward Mãos de Tesoura foi o cartaz escolhido na última votação. Ganhou disparado com 44% dos votos contra 22% de Volver, 13% de Vertigo, 14% Deus e o Diabo na Terra do Sol e 4% Bye, Bye Brasil. Para que o cartaz seja melhor compreendido é necessário traçar um breve perfil do personagem Edward e sua história. Vale a pena também abordar um pouco a direção de arte do filme.

Edward — Johnny Depp — é uma espécie de robô que vinha sendo construído aos poucos pelo seu “pai”, um inventor dono de uma fábrica de biscoitos — Vincent Price. Mas, ele morre antes de terminar sua criação, deixando Edward sem as mãos. No lugar delas existem tesouras colocadas de modo provisório. A mansão onde ele mora é escura, fria, com cenário em tons de preto e cinzas. Mas Edward, que possui aparência fria, monocromática e de feições sérias, é singelo, sensível e carinhoso. O mundo fora de sua mansão é extremamente colorido, com pessoas sempre sorridentes e ativas porém insensíveis, preconceituosas e superficiais, com suas vidas andando sempre do mesmo modo equilibrado e monótono. Edward é encontrado nesta mansão e levado ao mundo real por um vendedora da Avon — Dianne Wiest — a única que se importa realmente com ele e tenta fazer com que leve uma vida normal. Edward desequilibra esta cidade, tira as pessoas da monotonia e se apaixona pela filha da vendedora da Avon — Winona Ryder. E assim se resenrola a história. Leveza, simplicidade, dor, amor... tudo isso que temos no filme, temos no cartaz.
É um cartaz leve, clean. Poucas cores, poucas imagens. Leitura fácil e objetiva com apenas 2 tipologias, bem parecidas, com uma forma que faz uma perfeita associação com o tema: tesouras, corte, navalha e ao mesmo tempo delicadeza. Repare no traço, desenho, forma das letras.
Também é um cartaz de contrastes de cores, formas e sentimentos. O cartaz mostra a relação entre os opostos. Assim como no filme.
Equiíbrio e relação entre opostos. Essa é a linguagem principal deste cartaz.

É um cartaz bastante simétrico em sua composição. Algumas pessoas podem achar que não por ter na sua esquerda muita imagem e na direita muito branco. Mas é isso que o torna simétrico. Os pesos, tanto da imagem como do branco, são iguais se dividirmos na vertical ou na horizontal. A quantidade de informações que temos na área superior é igual a que temos na inferior. Portanto temos simetria, equilibrio, que está relacionado a monotonia e estagnação. Mas é um equilíbrio falso, causado e simbolizado pela borboleta e seu posicionamento: nos dedos, tesouras, de Edward.


A borboleta esta na ponta de uma das tesouras. Temos a sensação de que o equilíbrio dela sobre a lâmina pode ser quebrado facilmente. Ela está na ponta e em amarelo, e é justamente a cor amarela de suas asas, que dá esta sensação de um possível desequilíbrio onde a qualquer momento pode fazer com que ela voe e saia de sua linha de visão.

O amarelo neste cartaz tem vários significados. Representa a luz — descoberta de um mundo novo e emoções novas — o nervosismo e inquietude que tomam conta de sua vida e o materialismo das pessoas, busca por dinheiro e riqueza. Para Edward a borboleta é essa luz, essa vida nova, mas que traz neste seu brilho que tanto admira — reparem em seu olhar fixo em suas asas — um poder que pode cegar, fazendo com que sua ingenuidade não deixe com que perceba todos os problemas em sua volta. Edward se fascina pelas cores novas — amarelo — deste mundo fora de sua mansão sempre preta, branca e cinza e, com isso, não percebe a verdadeira personalidade das pessoas que fazem parte desta sociedade.
As únicas cores além dos cinzas e preto estão na borboleta e em seu rosto. É como se a borboleta refletisse em sua face as cores de uma nova vida e possibilidades. Na imagem ao lado simplesmente copiei e colei a borboleta sobre o seu rosto, reparem como as duas imagens se casam bem, seria essa a sensação de Edward ao olhar a borboleta:

• as asas da borboleta rajadas de preto são como os cortes em seu rosto
• a fragilidade da borboleta é a mesma de seu coração e de sua vida
a borboleta também representa o modo como ele nasceu, se transformou aos poucos em “homem” como uma lagarta em seu casulo.

A liberdade que ele busca, representada pelas asas, pode ser destruída facilmente apenas pelos movimentos de seus dedos. Edward se deixa apaixonar pela borboleta mas sabe que pode machucá-la facilmente. Essa ligação entre Edward e a borboleta é a mesma da relação de amor que ele tem por Kim — Winona Ryder.

Mesmo este cartaz tendo equilíbrio na divisão dos espaços, ele possui assimetria e por isso incomoda. Temos a sensação de que seus dedos vão se movimentar a qualquer momento e essa borboleta vai voar e ele, se ferir, aumentando suas marcas no rosto. Isso acontece pelas diagonais formadas pelas lâminas das tesouras tornando a composição, subliminarmente, assimétrica. Se o posicionamento de seus dedos fosse outro talvez essa sensação não fosse tão forte. Reparem nas linhas geométricas que existem formadas pelos seus dedos. Os eixos de cada mão estão posiconados de um modo que a sensação de abrir e fechar das tesouras, para cima e para baixo, é mais fácil de ser percebida. Sentiríamos diferente se eles estivessem mais alinhados ou equlibrados entre si.
Ainda podemos ver mais sobre essa linguagem dos opostos, que se chama Patafísica.


O cartaz dividido em duas partes esquerda e direita, divide tudo, respectivamente:

Feio e o belo • grosso e delicado • força e fragilidade • imortalidade e mortalidade • estagnação e mudança • morte e vida • ódio e amor • a sociedade e Edward • Edward e a sociedade • fantasia e realidade.
Embora esta divisão seja visualmente clara, ela é sublinarmente distorcida, mutável e infinitamente baseada nos ciclos que nunca terminam, se encontram e se alteram de acordo com o olhar do espectador: Edward, a esquerda pode representar o ódio, o feio, o grosso, a fantasia mas ao mesmo tempo pode ser o oposto de tudo isso.

O que é a fantasia o que é real? O que é feio ou bonito?
Depende do olhar, do seu olhar, do olhar de Edward neste cartaz que é o foco visual principal desta composição.

Para terminar indico este filme para quem ainda não viu. É um ótimo filme, fábula, de Tim Burton em seu primeiro encontro com Johnny Depp. Para quem é da área do design então, é obrigatório: direção de arte impecável.

E vote no seu cartaz preferido para a próxima análise, abaixo uma miniatura de cada um, e na coluna ao lado bem no início esta a enquete... participe. Sugestão? me mande um mail.

sábado, 3 de maio de 2008

1000 Tsurus


Sou sansei, na verdade sou uma grande mistura: Espanha, Portugal, Suécia, Alemanha e Japão. Destes países todos, o que está mais próximo no meu sangue, na minha descendência é o Japão. Meu avô, Yuchi, veio de Hiroshima. Isso eu já sabia, mas descobri, há pouco tempo, que ele e sua família chegaram aqui no dia 25 de abril de 1912 — meus bisavôs, Senjiro e Taki, meus 4 tios-avôs e meu avô o mais novo dos 5 irmãos com 3 anos — vieram no navio Kanagawa Maru (foto acima desta viagem em 1912). Do Porto de Santos foram para a fazenda Guatapará em Ribeirão Preto, mas como no Japão estavam acostumados com a vida da pesca vieram para Santos e se instalaram na Ponta da Praia.

Muito tempo depois, conheceu minha avó Odete, brasileira, casou-se em meio aos preconceitos. Deste casamento nasceram meu pai, (Wilson), minha tia (Elizabeth) e meu Tio (Nelson). Meu pai conheceu minha mãe, também brasileira, e casaram-se também em meio a preconceitos. Foi assim com meu Tio e seria com minha Tia se não tivesse falecido cedo e solteira. Descobri também que o nome pelo qual todos me chamam, assim como chamavam meu pai, tia e chamam meu tio, primos e muitos de nossa família, Okida, foi grafado errado quando meus bisavós chegaram aqui. Na verdade descobri ser Márcia Okita e não Okida. (na foto acima de 1967 eu logo que nasci e meu avô Yuchi Okida, o melhor Okita)

E aos 40 anos descobri uma nova identidade.


Tudo bem uma troca de T por D não modifica a minha vida nem me torna outra pessoa. Mas neste centenário, eu, que já queria buscar mais sobre meu passado oriental, achei: meus bisavôs, sua chegada aqui e meu nome de verdade.

Mas porque falar de tudo isso? Bem estive neste dia 1º de maio no Undo kai aqui em Santos, comemoração do dia do trabalho característica do Japão, que acontece por aqui há uns 50 anos. Fui em busca de tradição, principalmente em ano de centenário e conversei com um amigo, também de descendência japonesa, quando saía de lá sobre como estamos perdendo cada vez mais as tradições, a história.

Tenho muito em mim do sangue, perfil oriental. Meu lado silencioso, detalhista, espiritual e meu trabalho. Meu estilo de design é inspirado em grandes designers gráficos japoneses como Ikko Tanaka, falecido em 2002 — que considero o melhor cartazista que já existiu — e Shigeo Fukuda da nova geração mas que possui o mesmo estilo do design japonês de Ikko Tanaka. Simples, simbólicos, fortes e perfeitos. (abaixo cartazes Ikko Tanaka - esquerda - e Shigeo Fukuda - direita)


Sempre que posso busco essa história, essa tradição. Se tivesse filhos ou sobrinhos gostaria que eles conhecessem tudo que o Japão, sua arte, sua história tem para trocar com a gente. Não que eu seja presa as tradições mas, acredito que o conhecimento e a troca são fundamentais para um bom repertório de vida e, no meu caso, de criação visual, de arte. Tenho aqui na minha frente, em minha estante, um livro que cuido com muito cuidado. Maravilhas do Conto Japonês era de minha tia, Elizabeth, culpa do tal navio em 1912. Com traduções extremamente fiéis de contos tradicionais japoneses. Já me serviram de inspiração para aulas sobre simbologia, cores e criatividade.

Pena que poucos ainda se preocupam em conhecer suas origens e transmiti-las aos seus filhos. Não falo de prática, mas de troca de conhecimento e valorização das tradições artísticas, culturais extremamente ricas de um país como o Japão. Isso vale para nós brasileiros também lembrarmos da cultura, do folclore maravilhoso que existe em nosso país e que por vezes trocamos por tradições e costumes americanos.

Bem eu de minha parte tento resgatar sempre a nossa cultura brasileira, nosso folclore, sempre que posso, mas também faço o mesmo com as tradições japonesas.

Quem me conhece sabe que faz tempo que tenho uma vontade, um sonho: enviar para o Memorial da Paz de Hiroshima, mas precisamente para o Monumento as Crianças mortas, feito em homenagem a garotinha Sadao Sassaki, um conjunto de 1000 tsurus daqui do Brasil. Ainda em 2006 falei com algumas pessoas que gostaria de mandar durante o ano das comemorações do centenário, ou seja, este ano.

Fica aqui meu convite: quer participar desta corrente de paz, amor, fé etc e que também é uma maneira de cada um de nós homenagear os 100 anos da imigração?

Faça um Tsuru, de qualquer tamanho, cor, mas em cada dobra coloque um pensamento pela paz. Escreva seu nome em uma das asas e na outra uma palavra de amor, paz... Mande para mim com seu nome e contato. Para saber como fazer o seu(s) Tsuru(s) chegar em minhas mãos e juntar com muitos que já tenho, me escreva um e-mail, ou se já me conhece, me entregue.
Para você se inspirar: antes da garotinha Sadao Sassaki, de 12 anos, morrer de leucemia por consequencia da bomba, ela com a fé de que seus desejos poderiam se realizar se dobrasse 1000 tsurus, disse ao dobrar um deles: "Eu escreverei paz em suas asas e você voará o mundo inteiro." Nós pés da estátua em sua homenagem (foto acima) existe a seguinte inscrição: “Este é o nosso grito. É a nossa oração. Paz no mundo.”


Faça o seu e vamos mandar um pouquinho da nossa fé, amor e paz para um lugar que ainda precisa de muita energia positiva.

sexta-feira, 28 de março de 2008

Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças


O cartaz que venceu na última votação foi Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças e dedico esta análise, se me permitem meus leitores, a meu amigo Fabio Machado que diz que esse filme é tudo para ele, é ele ou quase ele, e sempre quis que eu analisasse este cartaz. Há algum tempo, fazendo uma pesquisa de repertório musical para cantar em uma apresentação pela internet, me deparei com um texto de um site que criticava este filme e falava de uma música nacional, belíssima por sinal, que teria tudo a ver com a proposta do filme. Eu já amava essa tal música. Depois, lendo a letra e pensando nesse filme, percebi que realmente tem tudo a ver. A música é Todo Sentimento do maravilhoso Chico Buarque — que amo de paixão pena que ele não saiba disso e nem me conheça — e que vou colocar estrofes dela a cada trecho da análise. Para quem viu o filme, percebam como essa letra é perfeita para a história. E quem quiser ouvi-la na voz de Miucha clique aqui (no final tem a letra completa e o link para ela na voz de Chico). Mas vamos ao cartaz:


Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças


Azul e Laranja. Cores opostas que se complementam. As duas diagonais deste cartaz também se opõem, em posição e em conteúdo de informação. A 1ª diagonal, a principal da primeira linha de leitura, (canto superior esquerdo para canto inferior direito) é vazia, limpa. A única informação visual que possui é uma suave rachadura no chão de gelo. É uma diagonal limpa, vazia e melancólica: Azul.

A outra diagonal, do lado oposto, (canto inferior esquerdo para canto superior direito — o peso da imagem do rosto dele força a nossa leitura de baixo para cima) é repleta de conteúdo e todos necessários à boa compreensão do cartaz e do filme. Começando no canto inferior esquerdo temos: Jim Carrey, seu olhar que leva para seu pensamento sendo bloqueado, ou pelo menos sofrendo uma interferência da rachadura, o nome do filme e os seus desejos, lembranças de momentos de união e dias felizes de um possível amor: Laranja


Preciso não dormir / Até se consumar / O tempo da gente / Preciso conduzir / Um tempo de te amar / Te amando devagar e urgentemente

A ligação do azul e do laranja está refletida em todo o cartaz e no filme.Essa inconstância de emoções, sensações, lembranças, desejos etc que existem no filme estão simbolizadas na alternância da composição do cartaz. Na cabeça do cartaz os nomes também se alternam entre azul e laranja, começa com Jim Carrey em azul, depois Kate Winslet em laranja.

Jim Carrey: azul: o que busca, o que deseja, quer paz, encontrar seu equilíbrio na mulher amada

Kate Winslet: laranja: o desejo, o riso, a felicidade perdida e encontrada



Pretendo descobrir / No último momento / Um tempo que refaz o que desfez / Que recolhe todo sentimento / E bota no corpo uma outra vez


O nome do filme reforça esta relação:

Brilho Eterno em laranja: luz, desejo, felicidade
De uma Mente Sem Lembranças em azul bem escuro quase um preto: vazio, busca, paz, solidão.
Vejo nesta linguagem de alternância, de oposição existente em tudo neste cartaz, como a linguagem construtiva principal. Mas podemos perceber outros detalhes de composição.



Prometo te querer / Até o amor cair / Doente, doente

O Gelo Rachado: simboliza o que está claro aos nossos olhos como a quebra de continuidade, bloqueio de caminho e também o simbolismo de fragilidade da fina camada de gelo que pode ser quebrada com um simples toque e assim trazer a morte, a dor cortante do frio extremo, a solidão de um corpo se afundando dentro d´água (no filme temos uma cena do rosto dela afundando na água). E a imagem que temos sobre a rachadura é um sonho, um desejo que pode ser facilmente despedaçado, como quando jogamos um balde de água fria em nossos anseios.

O Rosto pela metade: reforça a idéia dos olhos, do pensamento e, logicamente, a proposta da mente sem lembranças. Uma mente sem voz, já que não temos a boca, impedida de se expresar, pedir, gritar por ajuda ou por amor. Um homem pela metade.



Prefiro então partir / A tempo de poder / A gente se desvencilhar da gente

A imagem do casal: não representa um casal feliz, unido, como se tivesse uma vida inteira pela frente, juntos. Eles estão lado a lado sim, mas não se tocam, não partilham de cumplicidade. Não se olham. As mãos estão ou escondidas (dele) ou segurando uma a outra (dela). Apesar do frio e de serem um casal, não tentam se esquentar, nem com o corpo, nem com a alma. Estão distantes andam por caminhos distintos — pernas abertas para direções diferentes — paralelos, talvez nunca se encontrem. Seu cabelo azul reforça a relação de distância de ausência de uma mente sem lembranças também.



Depois de te perder / Te encontro com certeza / Talvez num tempo da delicadeza

Seus corpos de tocam em apenas um ponto, dos ombros ao cotovelo entre a região do peito, do coração. Se traçarmos uma linha que se inicie nesse ponto de encontro e passe pelas mãos azuis dela — detalhe que força a visão dessa imagem — chegamos ao centro da rachadura que se espalha por vários caminhos. Está clara esta relação com tudo que já foi falado neste cartaz. Essa rachadura divide claramente o cartaz em duas imagens: ele sozinho e ele com ela. Para quem já viu o filme percebe que a essência da história esta presente neste cartaz. Como no final da música:





Onde não diremos nada / Nada aconteceu / Apenas seguirei / Como encantado ao lado teu.


Para terminar gosto de falar de tipologia, ou seja das fontes de letras usadas. Bem escolhida a fonte usada no nome do cartaz mostra um equilíbrio entre traços masculinos — formas retas e cheias — e formas femininas — letras arredondadas. É fácil de ler e chama a atenção para o texto, não prejudica nem leitura nem entendimento.

Então fico por aqui. Espero que tenha gostado e espero seus palpites para o próximo cartaz, ok!



Para vocês a letra completa da maravilhosa... TODO SENTIMENTO e se quiserem ouvur na voz de Chico, cliquem aqui

Preciso não dormir
Até se consumar
O tempo da gente
Preciso conduzir
Um tempo de te amar
Te amando devagar e urgentemente
Pretendo descobrir
No último momento
Um tempo que refaz o que desfez
Que recolhe todo sentimento
E bota no corpo uma outra vez
Prometo te querer
Até o amor cair
Doente, doente
Prefiro então partir
A tempo de poder
A gente se desvencilhar da gente
Depois de te perder
Te encontro com certeza
Talvez num tempo da delicadeza
Onde não diremos nada
Nada aconteceu
Apenas seguirei
Como encantado ao lado teu.



Cartazes que estão em votação para a próxima análise e lembre-se aceito sugestão, palpites etc. A enquete fica lá em cima na coluna da direita:


terça-feira, 8 de janeiro de 2008

novo cartaz: Amélie Poulain

Imagine uma rua por onde andassem pelas suas calçadas: Renoir, Vincent van Gogh, Paul Gauguin, Toulouse-Lautrec entre outros. Se você tivesse que pintá-la, colorí-la, retratá-la em um filme, que visual teria?

Este é o clima que encontramos no filme e no cartaz de “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain”: uma certa semelhança com pintura, com uma tela carregada de tinta, luz e cores. Pode ser uma coincidência ou uma inspiração, mas é fato que estes pintores, e alguns outros tantos da mesma época, passeavam pelas ruas de Montmatre, em Paris, perambulando pelos bares, cafés, galerias, retratando seus moradores, contando suas histórias, participando do dia-a-dia e quem sabe até, mudando suas vidas.

E foi isso que Amélie fez, mudou a vida das pessoas.

Mas não foi por coincidência, mas sim inspiração, referência, o uso da obra de um pintor brasileiro, como base de criação de toda a direção de arte e fotografia do filme. A obra de Juarez Machado com suas cores quentes, vivas foram o pontapé inicial na criação da estética deste belíssimo filme. Influência que também está claramente presente no cartaz de “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain”.

Vamos começar por sua composição um gráfica.



Se dividirmos o cartaz pelo centro na horizontal e na vertical, vamos perceber que a disposição da personagem principal, Amélie, ao centro do cartaz, possui pesos diferenciados em cada uma de suas áreas retangulares.
Nos dois retângulos que estão posicionados no canto superior esquerdo e inferior direito, o peso da imagem é menor, enquanto que nos outros dois retângulos — canto superior direito e canto inferior esquerdo — o peso é maior causando assim uma pequena assimetria, não de imagem mais de foco, pois deste modo o olhar de Amélie, e sua boca, formam um triângulo forçando nossos olhos a permanecerem por mais tempo nesta área da imagem.
Esta imagem de Amélie possui o mesmo olhar, o mesmo sorriso, o mesmo ar de surpresa que encontramos durante, praticamente, todo o filme. Este cartaz já nos prepara para um encontro com Amélie, nos tornamos íntimos dela e quando a vemos em cada cena, reconhecemos sua personalidade, nos encantamos, identificamos, torcemos por ela mesmo sem saber da sua história.

“Algumas pessoas se conhecem desde sempre”
diz Amélie, e esta sensação de intimidade e proximidade que temos no cartaz existem em muitas seqüências do filme, por várias vezes vemos Amélie aparecer nas cenas como aparece aqui: o mesmo olhar de garota matreira e mulher sonhadora. Não existiria melhor maneira para retratá-la em seu cartaz.

Outra sensação muito clara nesta imagem é a de ilusão, fantasia, sonho. Uma sinestesia alcançada de várias maneiras:


• Com um fundo nebuloso de nuvens e estrelas em uma cor que não é característica de céu, nuvens ou estrelas: verde.

• Um enquadramento que parece distorcer a personagem, dá uma sensação de que a estamos olhando através de uma bola de cristal, ou como se estivéssemos sendo observados por ela — nós dentro da bola — como se esta imagem fosse fruto da nossa imaginação. Tente imaginar: você segurando uma bola de cristal na altura dos olhos e vendo Amélie através dela, com suas nuvens de estrelas nebulosas e verdes. Ou então ela — do lado de fora desta bola — te observando atentamente pensando em como mudar sua vida.

Será que ela existe? Será que não existe um pouco de Amélie dentro de cada um de nós? Esta pergunta está embutida neste cartaz, nesta imagem. Basta conseguirmos olhar mas além... além do dedo. Explico: Amélie quer mudar a sua vida e ela diz em certo momento do filme “quando o dedo aponta para o céu, o imbecil olha para o dedo”. Olhe então para dentro desta imagem simples de uma moça, olhe para além das nuvens esverdeados e assim a vida se move e tudo pode acontecer porque, segundo Amélie, “é impressionante como de repente toda sua vida parece caber numa caixinha desse tamanho” ou em um cartaz deste tamanho.

Mas este movimento, esta mudança aonde estão presentes neste cartaz? Se temos apenas uma imagem central como ela pode causar sensação de movimento?

Para isso as cores são perfeitas, e com base na obra de Juarez Machado, conforme foi citado início, com seus tons fortes e contrastantes, conseguimos este movimento. Podemos até utilizar aqui e uma frase de Vincent van Gogh “pretendendo exprimir com os vermelhos e os verdes as terríveis paixões humanas”. Vemos essa força, esta paixão, neste filme e neste cartaz. As cores se chocam, são opostas, os olhos não conseguem se manter o tempo todo apenas em uma das cores, ele precisa descansar dela e olhar para outra, então, se cansa, satura novamente e olha para a anterior, assim sucessivamente em um movimento infinito e constante de alternância entre estas duas cores. Isso só ocorre porque são cores opostas, juntas, formam o que chamamos de 100% de comunicação cromática.

O uso contrastante do vermelho e do verde são evidenciados pelo excesso de luz no seu rosto e pela cor negra do seus cabelos, olhos, sobrancelhas e pelo escurecimento da parte inferior do cartaz, fazendo com que exista um movimento dos nossos olhos passeando por essas cores. A sua boca vermelha pontua um detalhe, causando uma pausa no movimento e reforçando a simbologia desta cor.

Vermelho e verde. Força e delicadeza. Paixão e esperança. Amor e amizade. Coragem e timidez. Grito e Silêncio. Mil pessoas a sua volta e solidão. Sonho e realidade. Futuro e Passado. Medo e Segurança. Contrastes presentes nas cores do cartaz e em todo o filme.

Temos também o amarelo, a assinatura deste cartaz. Amarelo de vitalidade, de luz. Amarelo de alegria. Amarelo de riqueza (no caso aqui, riqueza espiritual). As pessoas alcaçam a luz, a riqueza na alegria e espírito depois de terem suas vidas mudadas por Amélie.

A tipografia escolhida para esta assinatura não poderia ser melhor. Uma letra maleável como se fossem as pinceladas da assinatura dos nomes de Renoir, van Gogh ou Lautrec em seus quadros. Vale lembrar que um dos personagens do filme é um velho senhor que passa sua vida falsificando obras de Renoir.

Realmente, tanto o cartaz como filme, parecem ter pinceladas de nomes como estes que passeavam pelos cafés de Montmatre, como o que existe no filme e que se um dia você for a Paris poderá conhecê-lo. O café onde Amélie trabalha chama-se “Café 2 des Moulins”, ele existe realmente e possui este imenso cartaz decorando suas paredes. Mas se não der para ir à Paris, pelo menos não deixe de ver “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain” é imperdível. E se quiser ler uma artigo escrito por mim sobre o filme com mais detalhes da direção de arte, enquadramentos etc clique aqui.

Este cartaz foi o mais divulgado em todos os lugares onde o filme foi exibido. Segue abaixo outros dois cartazes. O primeiro mais divulgado em Paris, até porque usa como imagem o “Café 2 de Moulins” localizado em Montmatre. Ele possui a mesma foto de Amélie, mas usando a relação simbólica do amarelo e fazendo uma relação dela com de uma lua cheia, com luz, como se dominasse a todos. O segundo em tons de vermelho feito para divulgação no Japão onde Amélie aparece deitada em sua cama com alguns objetos em verde a sua volta. Este cartaz também causa uma sensação de estranheza já que pesa mais para baixo e exagera nos tons de vermelho, tem uma conotação mais sensual e sexual que os outros e é interessante notar as fotos em cima da cabeceira de sua cama: fotos que existem no filme de um cachorro e pato que em determinado momento se animam e conversam com Amélie.



Espero que vocês tenham gostado e aguardo suas opiniões. Os cartazes que estão em votação para a proxima análise, de acordo com sugestões que recebi, são: Ladrão de Sonhos, Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças, Henry and June - Delírios Eróticos, Gilda e Boca de Ouro. Vote nesta nova enquete, está na barra lateral a direita, e mande sua sugestão para o próximo. Se quiser mande um arquivo de algum cartaz também como sugestão e caso queira receber as atualizações não esqueça de deixar uma mensagem ou mandar um mail. Abaixo as imagens dos cartazes que estão em votação.



Cartaz anterior: Memórias de um Gueixa

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Desconstrução de Cartazes - Memórias de uma Gueixa

Estou de volta com as análises de cartazes ou, como prefiro chamar, “Desconstrução Gráfica de Cartazes”. Para quem não conhece nenhuma delas, comecei a fazer este trabalho há muito tempo para usar em uma oficina sobre a relação que existe entre o design gráfico e o cinema. Acabou dando muito certo, várias mensagens, pedidos de uso por universidades, estudantes etc e, lógico, como fruto da internet, muita gente usando sem autorização e o pior, sem os créditos.

Atendendo a pedidos, que foram muitos, estou voltando a faze-las. Os cartazes já desconstruídos foram: Central do Brasil - Clube da Luta - Magnólia - De Olhos Bem Fechados - Corra Lola Corra - Eu, Tu, Eles - Shine e Cidadão Kane. Para ver ou rever um deles você os encontra no site da DG ou no Cineclube Lanterna Mágica. Agora essas análises estarão aqui 1 vez por mês e gostaria da sua opinião para o próximo cartaz a ser analisado. Me mande sua sugestão ou vote em uma das indicações na enquete ao lado.

Para essa volta escolhi um cartaz que tem tudo a ver comigo: Mémórias de um Gueixa. Espero que gostem.


Cartaz de leitura simples, fácil básica, com uma diagramação simétrica mas, com alguns pesos assimétricos em suas proporções. Possui uma forte relação entre figura e fundo — gestalt — o que prende nossa visão. Vemos, percebemos e entendemos muito bem tudo que existe neste cartaz. Tem como linguagens principais: o forte e marcante o uso das cores e o simbolismo do pensamento oriental embutido em suas imagens e insinuações.

Começando com as cores: vermelho, azul, preto e branco. A escolha não poderia ter sido mais perfeita. Vermelho. Cor da paixão, do amor, do sexo, mas também da violência, do sangue e da dor. Tudo isso colocado em uma boca. E não é uma boca qualquer, mas lábios perfeitamente delineados, como devem ser os lábios de uma gueixa. Fechados, não sorriem, nem parecem querer dizer alguma coisa. Lábios perfeitos e mudos, como devem ser as gueixas. Lábios mudos que escondem tudo que a cor vermelha representa, principalmente, suas memórias.
O vermelho é a cor que mais pesa neste cartaz. Seu posicionamento é entre o azul e o preto e está praticamente ao centro da linha de leitura principal que se inicia no canto superior esquerdo e vai para o canto inferior direito.

Ou seja, antes da paixão, do desejo, da vida real — vermelho — vem o sonho, a pureza, o passado — azul — e depois a solidão, a espera, a tristeza — preto.
O azul dos olhos representa seus sonhos de criança, sua pureza, seu passado.
O branco iluminado do rosto tem um simbolismo fácil: uma máscara, a associação direta com o fato das gueixas terem que buscar o aspecto de bonecas de porcelana, perfeitas, limpas, claras, leves, além de ter que se enconder, atrás da maquiagem, sua verdadeira personalidade.
Sinestesicamente esse branco sustenta o azul e o vermelho, ou seja, escondem a realidade e mostram apenas o que seduz os homens, a pureza do olhar em contraste com o erotismo da boca.

Vale lembrar uma frase do filme que diz que uma gueixa só está pronta quando, sem estar vestida de gueixa, consegue, somente com o olhar, parar qualquer homem na rua.
Ela está maquiada como gueixa, mas não esta vestida nem penteada como uma. Seus cabelos soltos emolduram seu rosto com um negro profundo. No filme são poucos os momentos em que aparecem de cabelos soltos. E por que?
Os cabelos soltos colocam neste cartaz um personagem do filme que seria muito difícil se traduzir em imagens: o vento e o tempo.
Para os japoneses, o vento que toca as cerejeiras em flor ou a água que move o rio, são elementos de grande importância simbólica.
O vento, essa passagem de tempo, é uma constante neste filme. Mas não é um vento feliz, alegre, é um vento que traz dores, angústias e principalmente solidão.
Esse vento negro emoldura seu rosto leve, branco, e se arrisca por cima do vermelho de sua boca — seus amores, dores — e do azul dos seus olhos — sua pureza e passado. Esse vento, simbolicamente representando o tempo, interfere nestes pontos de sua vida.

É extremamente difícil nosso olhar se desligar desta boca, não apenas pelo vermelho que ela carrega, mas pela proporção assimétrica que temos a sua volta. Essa assimetria do fundo prende nossos olhos na metade de baixo do cartaz, e por isso mesmo que o nome do filme não precisa ser tão grande. Pode ser delicado e pequeno. Fechamos esta leitura com uma tipografia perfeitamente escolhida, com serifas leves, forma esguia, delicada e sofisticada. Uma gueixa em forma de letra. E não precisamos de mais nada.

Como a simplicidade e as simbologias orientais, esse cartaz se resolve de forma limpa, leve e clássica. Prende nosso olhar, fala de paixão, de dor, de passado, de desejos sem precisar de inúmeras imagens para isso. Transmite arte, serenidade e é extremamente enigmático como as geuixas, artistas da noite, mulheres das sombras, muitas vezes incompreendidas, confundidas, proibidas de amar e de desejar. Impossível não ver tudo isso neste cartaz, nesta imagem que é como um bonsai ou uma cerejeira, que escondem no tempo cada traço de sua história e se movem ou alteram seu percurso conforme os diferentes caminhos que o tempo, ou o vento, os leva.
Assim são as gueixas.

Abaixo outras opções dos cartazes para lançamentos em locais diferentes. Percebemos claramente as diferentes propostas: o 1º a esquerda com apelo romântico e sem demonstrar muito apego as tradições orientais, a imagem é clara, com cores leves, românticas com muita luz (o que não acontece no filme) , na opção do meio temos o oposto a idéia principal se concentra nas tradições orientais e reforça a imagem de coisas escondidas na escuridão da noite (percebemos isso pela porta entreaberta, imagem refletida ao espelho e tons fechados, noturnos do cartaz) e o último tem apelo mais informativo já que tem várias cenas do filme e usa a imagem do cartaz que analisei de fundo. O interessante neste cartaz é reparar no modo como as fotos na lateral direita de alinham: essa forma que constroem umas sob as outras pode nos remeter a silhueta de um bonsai ou de uma gueixa de perfil.

Bem é isso espero que tenham gostado e aguardo palpites, sugestões opiniões etc...